OS CAMINHOS DA INTERDISCIPLINARIDADE



        Nesta aula é exposto o princípio da simplificação de Edgar Morin na qual com a disjunção do todo, há a separação do conhecimento por ‘partes’ gerando as disciplinas. Com a redução vem o processo de simplificação do complexo ao simples, como citado no texto de apoio, por exemplo, que o relógio estudado em partes torna-se mais fácil a compreensão de seu funcionamento. Na abstração encontra-se a matematização e organização do conhecimento advindos da formalização da ciência. O pensamento simplificador permitiu ao homem a tentativa de domínio e controle da natureza, vantagem na divisão do trabalho, para adquirir e elucidar novos conhecimentos e fenômenos. Ao separar o todo e as partes, a superação da disciplinaridade aparece nos movimentos da transdisciplinaridade, multidisciplinaridade e interdisciplinaridade. A transdisciplinaridade está acima da disciplina, ou seja, as temáticas ultrapassam a própria articulação entre as disciplinas. A multidisciplinaridade acontece quando necessita de várias disciplinas para a análise de um determinado fenômeno, mas estas não se dialogam, cada uma dá seu veredito separadamente. Já na interdisciplinaridade as disciplinas se dialogam e ao realizar o estudo de uma particularidade em questão, ouvem-se as ideias de dois ou mais profissionais do campo de conhecimento.
         A partir de tais conhecimentos, constatamos que as disciplinas no contexto escolar aparecem de forma multidisciplinar. Dissociadas, cada área de conhecimento trabalha sozinha não considerando a outra parte - disciplina. Percebe-se então, a necessidade de intervenções neste fator desde há muito. Sobre dissociação entre o todo e as partes Gregório de Matos, - poeta baiano (barroco brasileiro) e do século XVII - crítico e satírico da ordem e das regras estabelecidas em seu tempo, já refletia na qual aparece no soneto que segue:
AO BRAÇO DO MESMO MENINO 
JESUS QUANDO APPARECEO.
           Este texto religioso, que reflete sobre a onipresença de Deus, nos apresenta a ideia de que nem mesmo ele está completo em todos os lugares ao mesmo tempo, contudo, faz-se presente pelas partes de seu ser, que embora partes não deixem de constituir seu todo.
A partir desta reflexão, da ideia de que as partes constituem um todo, podemos pensar a temática da interdisciplinaridade. No verso “O todo sem a parte não é todo” conferimos que para se entender o todo, necessitamos conhecer suas partes, ou seja, um trabalho interdisciplinar necessita do conhecimento e o parecer de cada disciplina. Deste modo, as disciplinas curriculares devem se interagir para que suas vozes estejam presentes no todo do trabalho desenvolvido, completando-se significativamente.
Observando e relacionando a última estrofe do soneto ao contexto escolar, no verso “Não se sabendo parte deste todo,” as outras disciplinas não parecem saber que fazem parte desse processo – todo – e que “Um braço, (...) sendo parte,” será de fundamental importância para uma análise aprofundada de algum problema em questão. Nesse sentido, por exemplo, citemos uma criança que por acaso não consegue aprender. Há-se a necessidade de uma intervenção/análise diagnóstica e visionária de outras áreas de conhecimento – pedagogo, psicopedagogo, médicos, entre outros – para detectar e atuar diante do problema em busca dos melhores resultados.
Percebemos assim, que é necessário transgredir a visão fragmentada que existe sobre o currículo escolar, transpondo a ideia de disciplinas puras que não se cruzam. Este espírito transgressor, abrangemos nessa obra de Gregório, que não na área da educação, mas na dimensão da própria vida – o todo mais completo que pode existir – quebrou regras e convenções, chegando a ser tachado de “boca do inferno” por escrever para além da temática vigente em seu tempo, tratando de mazelas e imoralidades sociais, algo incomum no século XVII.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MATOS, Gregório de. Obra Poética. 3ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 1992.
ARAUJO, U.F. Temas transversais e a estratégia de projetos.

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